O Panorama visto da ponte (Reflexões)

Editorial / Apio Gomes - Em política, muitas vezes, existe a morte anunciada. Quaquá – que, segundo comentários, bancou o não-aumento do número de vagas para a Câmara – conseguiu fazer sete vereadores (o PTdoB, não sei com quem estava). E o resto ficou com Ricardo Queiroz. Se é verdadeiro o fato de ele ter dito, na ocasião desta votação, que faria os onze vereadores, sabia o que estava falando. Neste caso, a tese Walter Monteiro, divulgada pelo Itaipuaçu Site, pode estar correta.

Acho que tem gato na tuba: Delaroli chega no calcanhar de Quaquá; Ricardo lá embaixo; e o DEM/PSB fica no zero. Embora saiba que na matemática da eleição dois mais dois é sempre diferente de quatro, este somatório está me cheirando o famoso diferencial delta, de 1982.

Tenho tentado entender o que ocorre em Maricá, a cada quatro anos. Mas, ansioso que sou, esqueço de uma inexorável verdade: a história não tem pressa; seus passos são lentos, mas seguros. E deixa as suas pegadas indeléveis para se estudar/entender daí a 50 anos.
No início deste ano, escrevi o artigo ‘O homem que derrotou o golpe’, em que assim o iniciava:
“Esta total falta de interesse da juventude brasileira, hoje, pela política é resultante de um plano extremamente bem-executado pelos militares que assumiram o poder no Brasil, em 1964: extinguiram os partidos políticos; cercearam os sindicatos; fecharam as representações estudantis; aposentaram e perseguiram professores (houve uma diáspora de inteligência: muitos deles eram, também, pesquisadores); e amordaçaram a imprensa que se opunha ao golpe (a chamada grande imprensa foi preponderante para seu êxito: fato demonstrado no livro “A Rede da Democracia” – Ed. Nitpress). /// Em 20 anos de domínio, a ditadura militar desenvolveu um trabalho eficaz para nortear a geração que surgia. Em tempos idos, havia uma forte respeitabilidade pela escola pública; vez por outra, algum aluno da rede particular ficava meio fora de eixo, quando alguém dizia que a escola dele era ‘ppp’ (papai pagou, passou). Claro que existiam escola de padrão semelhante à pública, principalmente as ligadas à Igreja Católica. /// Hoje, esta lógica foi totalmente invertida, com a deliberada desconstrução do ensino de estado. Para que os alunos brasileiros, das redes pública e privada, absorvessem, sem contestação, aquela nova ordem política que implantaram, substituíram as provas discursivas (que provocava um debate dialético silencioso entre o aluno, ao responder; e o professor, ao corrigir), pela múltipla escolha, que em algumas escolas era conhecida por ‘unidunitê’.
A meu juízo, o consumismo que tomou conta do Brasil, depois de a Globo se tornar a direcionadora dos costumes (como foram, timidamente, a Rádio Nacional e a revista O Cruzeiro, em outras eras), atingiu também a política. O candidato médio, hoje, é um sujeito que se apresenta à população para ser seu representante, não como uma extensão dos princípios básicos de seu partido; mas com um sonho pessoal.
Muitas vezes, reconheço, esse sonho é mais forte que o ideário de sua congregação partidária. Mesmo assim é um sonho pessoal. Alguns são um tanto quanto messiânicos; têm as propostas mais avançadas. Mesmo assim é um sonho pessoal.
Feliz daquele que consegue coletivizar o seu sonho entre seus pares. Se o sujeito não consegue transformar este querer restrito, individual, em um sonho coletivo, é porque isto não é um sonho: é uma quimera.
E, para confirmar a regra, ocorrem as exceções vindas pelos dois lados:
· os militantes de base que procuram uma carreira-solo (tornam-se um perigo, porque sabem manipular as ferramentas) ou são mordidos pela mosca-azul, que inocula na mente ideia de única liderança;
· e, no outro extremo, os que nem sonho têm (aparentemente para nós, que só os vemos como produtos de suas profissões), mas que, no exercício do poder, nos surpreendem positivamente, com são dois casos nesta legislatura federal: Romário e Tiririca.
Este campo da sociedade brasileira – a política – é o verdadeiro Beco do Mota.
Como Maricá é Brasil, seguindo a analogia proposta por Milton Nascimento, em sua bela composição, Maricá é o Beco do Mota.
A princípio, sua geografia não facilita uma integração municipal sede/distritos. A rodovia funciona como uma coluna vertebral, e em suas margens existem costelas. Como no nosso corpo, estas não se comunicam.
A gente aqui em Itaipuaçu desconhece totalmente o que ocorre no primeiro distrito. O fato é que estamos mais próximo de Niterói, de São Gonçalo. Além disso, com todo respeito ao Itaipuaçu Site, não existe o que podemos definir como imprensa.
Aqui em nosso universo, ainda existia o Exato, cuja importância de seu idealizador vai ser, um dia, reverenciada. Falo isto com isenção, porque não fazia parte de seu núcleo de convivência. Sou uma pessoa muito tímida, recatada, que alguns confundem com personalidade difícil. Muitas vezes tento arriscar um vôo mais rasante, mundano, mas não levo jeito. Cheguei a ter uns poucos artigos editados pelo jornal, por interferência do Paulo Sérgio; mas posso afirmar que – pela edição, em página nobre e bem trabalhada – Gentile sempre teve respeito por mim; pelos meus textos.
Não sou daqueles que acham que Itaipuaçu deveria ter um número reduzido de candidatos. Isto é conversa de quem não conhece a dinâmica dos partidos, que – obrigatoriamente – buscam exatamente um maior contingente de gente disposta a preencher sua necessidade de coeficiente eleitoral. É mais ou menos como aquela frase que Guevara (dizem) cunhou: ‘precisamos fazer um, dois, três, mil Vietnãs’.
Não sei se por coincidência, mas em dois recentes períodos pré-eleitorais ocorreram manifestações que envolviam o povo, em torno de duas campanhas do que se convencionou chamar de sociedade civil: ‘C-Parei de Maricá’ e ‘Fora, Quaquá’. Presenciei, em ambas, uma quantidade absurdamente grande, para o grau político local, de gente assinando petições.
Estes dois movimentos desaguaram em um mesmo córrego: eleição municipal. Se no primeiro caso o grupo, quase homogeneamente, embarcou em um partido que indicou o vice para o PDT; o segundo, pulverizado, levou a maioria para a campanha do DEM/PSB.
Em política não é muito prudente se falar em fatos coincidentes (como falei acima), porque pode haver uma ação de causalidade, latente na formação cultural da sociedade que está sendo estudada. Estaremos reproduzindo, em minúscula escala, a marcha para o oeste que embalou minha geração, nos bangue-bangues americano?
Quando insisto em dizer que nós, em Itaipuaçu, não somos uma comunidade – como alguns insistem em classificar – e sim uma coletividade, sempre sou visto como querer levar a discussão para o campo semântico. Mas, enquanto esta diferença não estiver clara nas cabeças das pessoas que podem proceder algum tipo de transformação política, continuarão criando movimentos que se extinguem com a proximidade do evento maior, que é a eleição municipal.
Entendo que isso é um entrave ao aprofundamento político, porque as pessoas que assinam este tipo de documento esperam por uma resposta que não vem. Logo depois, estas lideranças estão engajadas em uma campanha eleitoral. Eu acho isto ótimo, positivo. Faz parte da vida de qualquer militante das causas populares. Mas qual a reação do cidadão comum, que lhes confiou a assinatura? Isso não pode ensejar que solidifique, entre essa gente, o famoso coro de que político é sempre igual?
A natureza nos demonstra, sobejamente, esta equação díspar, quando nos mostra os diversos coletivos de animais que se dividem em grupos no mesmo habitat, brigando ou não entre si (os símios são exemplos disto); enquanto corais e algas conseguem, a partir da simbiose do amor, do objetivo comum de sobrevivência, se transformar em uma comunidade que, com muita paciência, se transforma em um recife.
Se a gente prosseguir como nossos primos distantes, o pequeno embate nunca ultrapassa o centro de Inoã; como, na floresta, em que eles no máximo marcam seus territórios. É imperioso, portanto, que se pense neste casamento de interesses comuns, cujo recife cresce em diâmetro a partir de cada comunidade de interesses homólogos que os nossos, localizadas em diversos pontos do município.
Mas não dá para se criar comunidade, em que um coral, por ter melhor colorido, queira se perpetuar no comando da simbiose. Aliás, as algas também estão aprendendo esta prática com a maior eficiência.
O pessoal que se intitula liderança, reclama do tratamento recebido pela matriz, mas, internamente, reproduz o que de pior é feito por quem comanda a cidade. Você, que percorre todas essas associações, responda a você mesmo esta minha indagação: quantos desses órgãos, dito comunitários, trocaram de dirigentes nos últimos dez anos?

“Vamos renascer das cinzas.
Plantar de novo o arvoredo.
Bom calor nas mãos unidas.

Na cabeça de um grande enredo”.

(Martinho da Vila, quando sua escola de samba foi rebaixada)

Comentários

  1. Na minha humilde opinião o que aconteceu nesta eleição foi que os partidos e seus líderes resolveram arriscar, como um apostador costuma fazer. O único perdedor é a população que ficará nas mãos de um prefeito eleito com menos da metade do eleitorado. Ou seja, pouco compromissado com a população e mais preocupado com seus interesses pessoais. O multipartidarismo propicia isso em municípios que não tem segundo turno. Na próxima eleição, daqui a quatro anos, termos uma repetição disto. Aventureiros políticos tentando a sorte!

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  2. Apio Gomes sempre com seus textos certeiros.
    Sou discípulo e fã

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  3. Infelizmente é verdade : "Não precisamos de bons políticos e sim de bons eleitores"

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  4. Apio, sinto muito a falta de suas longas conversas e conselhos. Aprendi a admirá-lo e respeitá-lo por tudo que me ensinastes nesse convívio maravilhoso.
    Sei que erramos em muitas coisas, mas tenho certeza que foi tentando e lutando(sua ausência foi sentida). Conluio do seu pensamento de desapego dos jovens pela política.
    Preciso retomar nossas conversas, pois apenas começamos a guerra e o Sr. sabe muito bem como tudo isso começou...Vamos que vamos!!!
    Foi apenas uma pequena batalha perdida...

    Fabio Carvalheda

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  5. SÓ VOU ESCREVER UMAS PALAVRAS, MUITO BOM, PRÁ LÁ DE BOM, AS SUAS PALAVRAS ME ILUMINARAM DE BONS PENSAMENTOS, PRECISAMOS NOS CONHECER, VI QUE VC CONHECE O RADEMAR DE SÁ, COMO TAMBÉM O CONHEÇO, VAMOS TENTAR NOS ENCONTRAR PARA TROCARMOS IDÉIAS, ACREDITO QUE TEREMOS MUITAS COISAS EM COMUM.
    ABÇS.

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  6. 40 DIAS ANTES DA ELEIÇÃO QUAQUÁ MONTOU UM GRUPO COMANDADO PELO CAPACHO DO QUAQUÁ "RATIER" QUE VARREU ITAIPUAÇÚ DE INFORMAÇÕES FORAM CASA EM CASA !

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