Pezão e Crivella se enfrentam em debate da Band

Nas trocas de acusações, os candidatos exploraram a imagem da Igreja Universal e da corrupção.


Jornal do BrasilCláudia Freitas

Os candidatos ao governo do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB), voltaram a trocar acusações que envolvem, por um lado, influência da Igreja Universal, e por outro, de empreiteiras, nas campanhas eleitorais e gestões passadas. O encontro entre eles aconteceu no primeiro debate na TV para o segundo turno, promovido pela Band, na noite desta quinta-feira (9/10), no Teatro Oi Casa Grande, na Zona Sul da cidade. Um dia antes, os dois já tinham participado de um encontro promovido pela OAB e revista Veja, onde não faltaram troca de farpas e acusações.

O primeiro postulante a chegar para o debate foi Marcelo Crivella, que completou 57 anos nesta quinta (9). "Eu ganhei um bolo da equipe do PV[Partido Verde]. Comemorei o meu aniversário com eles", contou o senador, sem confirmar um possível apoio do PV a sua candidatura. Crivella criticou a postura do adversário no último debate, reafirmando que não faz nenhuma combinação entre política e religião. "A pior mistura é política com corrupção", atacou o senador. Já Pezão, considerou que "não subiu o tom" no encontro na véspera e sempre "aguarda como o adversário vem". O candidato considerou que a sua participação nos debates é sempre propositiva. Quanto os apoios fechados até o momento por Crivella, que incluem os ex-candidatos Anthony Garotinho (PR) e Lindberg Farias (PT), que podem representar uma vantagem para o candidato do PRB nesta nova etapa, Pezão afirmou que "está tranquilo", pois a sua votação no primeiro turno foi expressiva e está "animado" com a campanha.

"Eu acho que o ele [Marcelo Crivella] fechou [aliança para segundo turno] com o Garotinho. O Lindberg foi apenas ele e o Quaquá [presidente regional do PT, Washington Quaquá], porque no PT, dos seis deputados estaduais, cinco vieram comigo, dos 11 prefeitos, 10 vieram comigo. A aliança com os prefeitos é muito importante. Eu tenho o apoio da maioria dos prefeitos e ex-prefeitos. Ainda teremos muitas adesões até segunda-feira", destacou o governador.

O governador Pezão, logo na abertura do debate, chamou o seu adversário de governador. A plateia se manifestou surpresa com a desatenção do candidato, que no final do debate tentou corrigir o erro. "Eu chamei o senhor de governador, mas foi governador da Igreja Universal", disse Pezão. Durante o embate, o governador citou a Igreja Universal diversas vezes, acusando Crivella de favorecer evangélicos com cargos públicos na época que era diretor da Empresa de Obras Públicas do Rio de Janeiro (Emop). No terceiro bloco, Pezão questionando o senador quanto os seus planos voltados para programas sociais, perguntou a Crivella se ele pretende usar a máquina da Igreja.

Já o senador, nas suas considerações finais, considerou o adversário uma boa pessoa, mas apontou que o problema está no seu partido, envolvido com casos de corrupção. Os temas mais abordados por ambos postulantes foram saúde, transporte público e educação. No primeiro bloco, os candidatos abriram o embate respondendo a uma pergunta estabelecida pela produção: qual a primeira ação do seu governo? Os dois postulantes apontaram a saúde como prioridade nos seus planos. Ainda no mesmo bloco, os candidatos responderam a perguntas de eleitores através das redes sociais da emissora. Crivella criticou a atual política de transporte no Estado e Pezão defendeu novos postos de trabalho para a Baixada Fluminense.

Minutos antes de começar o debate, mais uma cena inusitada protagonizada pelos dois candidatos arrancou risadas da plateia. Crivella deixou cair no chão o seu copo de vidro e contou com a ajuda de Pezão para catar os cacos.

Primeiro bloco

Dividido em dois momentos: primeiro os candidatos responderam a uma pergunta estabelecida pela produção, de qual medida que o candidato deve tomar de imediato se eleito, e em seguida, os postulantes esclareceram dúvidas de eleitores enviadas através das redes sociais. Os dois candidatos escolheram o setor da saúde para priorizar nos seus planos de governo. Marcelo Crivella considerou que a área está abandonada no Estado, a ponto de pacientes em tratamento de câncer procurar unidades médicas fora do Rio. O senador voltou a exemplificar as suas avaliações negativas com a fila de pacientes que aguardam por cirurgias pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Pezão disse que o seu governo já investiu muito em saúde e esse ritmo será intensificado na sua nova gestão.

Pezão foi o sorteado para abrir a rodada de perguntas diretas entre os postulantes e questionou Crivella sobre os seus planos para o interior do Estado. O senador defendeu maior assistência técnica para as atividades da agropecuária nas regiões do interior. Segundo ele, o Estado está perdendo uma grande oportunidade, já que contabiliza cerca de R$ 200 milhões em importações por ano no mercado de peixe. "Isso poderia estar sendo produzido, no interior, no noroeste fluminense", defendeu. O candidato também ressaltou a importância de incentivar a agricultura familiar. Na réplica, Pezão disse que o atual governo adotou uma política agressiva, que teve como resultado a presença ativa da indústria leiteira no interior, com retorno de 51 laticínios ao Estado, além da melhora das estradas rurais e valorizar os salários dos trabalhadores da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro).

No entanto, na sua tréplica, Crivella afirmou ter conversado com trabalhadores dessas regiões que descreveram o estado de sucateamento do aparelhamento estadual para a produção rural. Em seguida, Crivella perguntou Pezão sobre os motivos que o governo dele não vem investindo em barcas e VLTs (Veículo Leve sobre Trilhos). Pezão contabilizou o número de trens com ar condicionado e barcas colocados em uso durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral e na sua administração. Pezão destacou as vantagens do bilhete único intermunicipal criado na gestão atual. "Permitiu que a região Metropolitana do nosso estado hoje ter a maior renda per capita do Brasil", afirmou o governador, acrescentando que o aliado do senador não investiu na área durante o seu mandato.

Pezão, respondendo a uma pergunta de internauta sobre geração de emprego na Baixada Fluminense, avaliou que as obras do Arco Metropolitano atraiu diversas empresas para a região, que já conta com novos postos de trabalho. Segundo o governador, o próximo passo será capacitar o jovem para ocupar essas novas vagas. Crivella, na réplica, disse que a Baixada foi abandonada pelo governo atual. "A Baixada não tem infraestrutura, não tem água, não tem zoneamento, as ruas não tem CEP", descreveu, avaliando que esse resultado foi pela falta de organização da gestão do PMDB.

Segundo bloco

Os candidatos respondem perguntas de telespectadores pelo WhatsApp da emissora, com um minuto para responder. Por sorteio, o governador Luiz Fernando Pezão respondeu a primeira pergunta, que foi sobre as condições dos trens no Rio. Pezão defendeu a renovação da frota de trens e a reforma das estações, tendo em vista 19 delas já no projeto inicial. Segundo ele, o modelo das novas estações deve ter como referência a Maracanã, que ficou como legado da Copa no Estado. Como medida de segurança na via férrea, Pezão anunciou a construção de novos viadutos para substituir passagens de níveis, responsáveis por diversos acidentes nos últimos anos.

"As estações estão abandonadas, várias delas têm boca de fumo. Nós precisávamos a muito tempo fazer mergulhões ou viadutos para acabar com as passagens de níveis, os trens que diminuir a velocidade e isso causa muito atraso para os passageiros", retrucou Crivella, acusando o governo Pezão de ter abandonado os trens para dar prioridade aos ônibus. Na pergunta seguinte, sobre investimentos regionais, o senador afirmou que o potencial das regiões fluminense não estão sendo explorados devidamente, defendendo uma reforma administrativa, usando tecnologia da comunicação, para atrair investidores que vão abrir novos postos de trabalho. Pezão considerou que o Portuário do Açu, no Norte Fluminense, é o "eldorado" da região, com vários empresas se instalando no seu entorno e gerando muito empregos. De acordo com o governador, a prioridade dos investimentos será para atender a logística do portuário, inclusive com projetos de reflorestamento. "É lamentável senador, o senhor que foi diretor de Planejamento da Emop e nunca planejou nada para aquela região", disparou Pezão.

No setor da Segurança, o governador garantiu que o Estado está fazendo um esforço enorme, destacando que antes o governo estadual investia mais de R$ 2 bilhões e este ano o orçamento foi superior a R$ 9 bilhões. Ele afirmou que novos investimentos devem ser feitos na formação dos militares, assim como a contratação de mais seis mil PMs, através de concurso, tendo em vista a meta de 60 mil policiais contratados. "Aqui no Rio de Janeiro é um caso atípico. Trinta anos que o crime foi jogado para debaixo do tapete. Nós liberamos milhares de pessoas do julga da criminalidade", afirmou Pezão, fazendo alusão ao projeto das Unidades de Política Pacificadora (UPP) nas comunidades.

"Acho que esse governo avançou com a UPP, mas sabotou a UPP com o seu desespero eleitoral. Que implantou as UPPs sem planejamento", destacou Crivella na sua réplica. O candidato do PRB disse ainda que o problema da segurança no Rio está no mal exemplo dado pelas lideranças governamentais, que estão envolvidas em escândalos de corrupção.

Crivella afirmou ainda que pretende fazer uma auditoria nas OSs (Ordens de Serviço) - "porque as políticas do estado passaram a viver um binômio, de que poder gera riqueza e riqueza gera poder", disse. Ele complementou o seu raciocínio afirmando que metade do orçamento do estado em OSs, num estado que tem como cultura a corrupção, representa um risco, que tem "um monte" de interferência política. "Muitas delas quebram, não pagam as obrigações trabalhistas e depois o estado que é solidário tem que pagar", avaliou. No lado oposto, Pezão garantiu que as Ordens de Serviço, atualmente, são as responsáveis por permitir que o cidadão seja atendido em centros especializados. "Onde puder fazer concurso público nós vamos realizar, mas as OSs são muito importante para o sistema de saúde do estado", destacou o governador.

Na área da educação, Crivella atacou novamente a atuação do estado e disse que os professores estão desmotivados, com seus salários reduzidos e sendo obrigados a dar aulas em diversas escolas como alternativa para complementar a sua renda familiar, o que é agravado pelo trânsito do Rio, que dificulta o seu deslocamento e transforma a vida do profissional em um "tormento". O candidato classificou o diálogo dos profissionais de ensino com o governo do estado como "péssimo", chegando até casos de violência. Na sua réplica, Pezão destacou os números do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e prometeu novos investimentos para o setor, para colocar o Rio em primeiro lugar em qualidade de ensino.

Terceiro bloco

Pelas regras do debate, cada candidato responde a uma pergunta formulada a partir de reportagens exibidas em jornais da emissora. Pezão foi novamente sorteado para abrir a rodada e comentou uma matéria sobre as condições e sucateamento dos hospitais federais no Rio. O governador afirmou que tem conversado com a presidente Dilma Rousseff (PT) e com o Ministro Chioro (da Saúde, Ademar Arthur Chioro) sobre a possibilidade de integração da rede federal ao sistema estadual de saúde. Crivella descartou a "politização" da saúde e aposta em um "mutirão", inclusive com as associações dos hospitais privados, para tentar encontrar uma saída para reverter o quadro da saúde no Rio, que ele chamou de "calamitoso".

A segunda reportagem avaliada pelos candidatos foi acerca de mortes de policiais militares. Crivella considerou que os índices de violência no estado chegaram a um patamar "absurdo". Apesar de classificar as UPPs um avanço, o senador avalia que o programa foi implantado de formar desordenada nas comunidades. "Temos que mandar um recado direto para a bandidade que não vamos recuar, pelo contrário, para cada soldado que eles matarem fomos formar mais dez, e mais dez e mais dez. E libertar o Rio que antes vivia de regras impostas pelo crime e bandidade", disse. Pezão enfatizou que o seu governo teve a coragem de enfrentar a criminalidade e vai continuar investindo em segurança nas comunidades.

Respondendo a perguntas feitas através das redes sociais, Pezão disse que pretende fazer uma grande parceria com os municípios para implantar uma política de reflorestamento, visando preservar as nascentes e resolver a questão da água. Crivella prevê que o problema da água deve ser resolvida no Supremo (Supremo Tribunal de Justiça). O senador acredita que o Rio, em função do seu relevo, não sofre com a falta de água, mas com a ausência de rede (de abastecimento), mantida pela "indústria do carro pipa".

Quarto bloco

Candidatos fizeram perguntas entre eles, com tema livre. Crivella afirmou que a Procuradoria Regional Eleitoral fez dez registros para a cassação da candidatura do seu adversário, e perguntou a Pezão se ele não tem medo de ser eleito e perder o mandato por causa dos processos. O governador considerou que a Procuradoria tem o direito de fazer os seus requerimentos e indagações, mas ele vai se defender e provar que usou todas as ferramentas de propaganda dentro dos prazos estabelecidos por lei. Crivella rebateu considerando ser "anormal" a quantidade de processos contra o governador por crimes eleitorais e salientou que a sua campanha está sendo feita de forma "humilde", porém "transparente". "Muito triste senador, o senhor falar que a sua campanha que não tem recurso. A gente sabe que a sua organização, a Igreja Universal, faz parte da sua campanha eleitoral. Como é utilizada a Igreja Universal, que virou um partido político, virou canal de televisão, faz uma campanha dessa, escolhe os candidatos. Isso que a gente tem que estar vendo nesse segundo turno e como estão sendo feitas essas alianças. Isso que eu vou querer discutir", disparou Pezão.

Logo em seguida, em um questionamento de como o senador pretende conduzir os programas socais, caso seja eleito, Pezão novamente relacionou a candidatura de Crivella com a influência da Igreja. "Como o senhor vai implementar os programas sociais, vai ser o Garotinho ou o bispo Edir Macedo que vai conduzir os projetos?", perguntou o governador, provocando uma forte reação da plateia.

"Pezão, Pezão, a minha mãe não vai mais apreciar aquele bom moço modesto, humilde", retribuiu o senador, se referindo ao episódio ocorrido no debate da véspera, envolvendo o nome da mãe de Crivella. O senador disse ainda que foi o deputado Garotinho quem ajudou o governador na vida política e relembrou que Pezão esteve na inauguração do Templo de Salomão e foi "cordial" com o bispo Macedo. "Eu vou te dizer uma coisa Pezão, não é por ai que você vai ganhar as eleições, não. Conversa com os seus marqueteiros que isso não vai dar resultado", disparou Crivella. O senador negou qualquer benefício dado por ele a membros da Igreja e acusou, mais uma vez, o governo de estado de corrupção e traição com antigos aliados. "Os meus aliados, foram na verdade, seus companheiros, que você hoje os traí", acusou o senador.

Pezão destacou que o Bolsa Família no estado é tratado de forma transparente pelo seu governo, voltando a comentar sobre supostas contratações feitas por Crivella para favorecer a sua congregação. Respondendo a perguntas de telespectadores enviadas através das redes sociais, sobre os investimentos para as regiões devastadas pelas fortes chuvas de 2011, Crivella fez nova provocação ao adversário: "em primeiro lugar, eu não vou para Paris", relembrando que o ex-governador Sérgio Cabral viajou para a Europa em meio a tragédia na região serrana. O candidato do PRB propôs a criação de uma GeoRio (Fundação Instituto de Geotécnica) na região serrana. Pezão defendeu o programa do governo estadual que vem treinando a Defesa Civil da região, para evitar novo desastre natural.

Quinto bloco

Foram debatidos os tema mais comentados no Twitter da emissora, com um minuto e meio para cada candidato. Pezão respondeu sobre transporte público, afirmando que os investimentos direcionados ao sistema sobre trilhos no interior é um dos focos do seu plano, com a reativação do ramal de Barrinha. Segundo o governador, esse ramal será importante para atender o polo automobilístico no interior do estado. Crivella foi questionado sobre segurança e prometeu investimentos para inibir a entrada de armamento pelas fronteiras e o combate da corrupção.

Nas considerações finais, o senador afirmou ter grande consideração pelo seu adversário, no entanto, o "grande problema" está no partido do governador. Crivella disse ainda que não vai atacar o governador pelas suas escolhas religiosas e acredita que uma "guerra de ideais religiosos" deve ser evitada. Em troca, Pezão voltou a comentar a relação de Crivella com a Igreja. "Eu chamei o senhor de governador [no primeiro bloco do debate]. Mas é governador da Igreja Universal", disse. O candidato do PMDB encerrou o seu discurso com promessas de investimento na área da saúde, especialmente para a Baixada Fluminense.





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