A “Rio - 20″ e o “espírito do Rio” - homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente

Há 20 anos, no dia 7 de junho de 1992, Leonel Brizola publicava na imprensa um de seus tijolados para saudar a “Rio 92″, conferência que, na qualidade de governador do Estado do Rio, faria dele um dos anfitriões oficiais de um número de chefes de estado jamais visto antes reunidos. De Fidel Castro a Bill Clinton, todos puderam testemunhar o “espírito do Rio” invocado por Brizola, com destaque para as iniciativas socioambientais de seu governo.

Hoje, 5 de junho, dia mundial do Meio Ambiente, às vésperas da “Rio +20″, vale a pena perguntar: o que foi feito do “espírito do Rio”, presente na “Rio - 20″? Com o objetivo de contribuir para essa reflexão, publicamos, a seguir, o “tijolaço” na íntegra, que nos foi enviado pelo jornalista Ápio Gomes, fiel guardião dos artigos do ex-governador e, com base no dedicado trabalho dele e do também jornalista Osvaldo Maneschy, que surgiu o livro Leonel Brizola - a Legalidade e outros pensamentos conclusivos, publicado pela Nitpress e que encontra-se à venda nas melhores livrarias ou pela loja online da editora (O livro estará sendo relançado em São Gonçalo no próximo dia 15 de junho, às 18 horas, na livraria Gutenberg do Boulevard Shopping (3º piso).

O espírito do Rio


1 – A Rio–92, hoje, já merece outro nome: O Encontro da Esperança. Até o fim desta semana, atingirá seu ponto mais alto, com a presença de cerca de 120 Chefes de Estado. Estarão juntos os responsáveis pelas mais importantes decisões sobre os destinos do mundo para uma reflexão sobre o que precisamos fazer em defesa da vida, frente aos impasses que se avolumam diante de toda a humanidade, pobres ou ricos. Ou assumimos uma atitude diante da degradação crescente do meio ambiente, especialmente daquilo que fazemos contra o próprio ser humano, ou afundaremos no martírio da destruição da natureza e de nossa própria espécie.

2 – Em verdade, estão ocorrendo duas conferências, lado a lado, simultâneas. Uma, oficial, de representantes dos governos de quase todas as nações do mundo. Outra, informal, quase inorgânica, de instituições e personalidades que vêm de todos os lugares. Trazem suas idéias, suas propostas, seus depoimentos, suas inquietações. As duas conferências se completam e, de certa forma, estabelecem um ambiente de legitimidade para as resoluções que vierem a surgir.

3 – O Brasil vive o privilégio e a honra de ser anfitrião da maior conferência internacional até hoje realizada. Ao Governo brasileiro, como se sabe, cabe, além de representar nosso País, a coordenação de todo o conjunto de providências e serviços necessários, inclusive os de competência do Estado e do Município, para que este colossal evento venha a se realizar de forma eficiente e organizada. Felizmente, a União, o Estado, o Município e as instituições locais atuaram em perfeita sintonia e entrosamento. Penso que estamos oferecendo aos visitantes o melhor de nossos esforços. Intrigas e explorações a parte, não procuramos, de nenhuma forma, pôr para baixo do tapete nossos problemas e realidades. Não houve nenhuma retirada especial de mendigos ou de crianças, como pretendem infundir.
4 – No campo da segurança ostensiva sim, tudo tomou uma dimensão muito maior, com a presença das Forças Armadas, em função da presença de Chefes de Estado e de um enorme número de pessoas e delegações estrangeiras. As preocupações, neste caso, vão muito além da segurança comum. O Rio não poderia servir de cenário a sabotagens, terrorismo ou outros tipos de atentados estranhos à nossa realidade. A população está consciente de que passará por alguns transtornos, principalmente em matéria de trânsito, nos dias em que estiverem circulando cerca de 120 chefes de Estado. É um tributo que cabe a todos nós, em função das responsabilidades que assumimos. O Rio sairá engrandecido e colherá, durante muitos anos, os frutos de sua dedicação e hospitalidade.
5 – Agora, uma pergunta: será que não conseguiremos sensibilizar nossos milhares de visitantes para a idéia de que o Rio de Janeiro viesse a se tornar um símbolo, uma espécie de síntese, modelo, exemplo de ação e de mudança, em suma, dos esforços que precisamos em todo o mundo para recuperar o que a humanidade destruiu e perdeu em relação ao meio ambiente?
6 – E porque esta idéia é coerente e factível? Vejam: primeiro, porque o Rio de Janeiro é um dos lugares mais belos e favoráveis à vida humana de todo o mundo. Aqui, quase todas as belezas naturais se encontram: mar e montanhas, planícies, praias e florestas, litoral entrecortado por baías, clima tropical ameno e de altitude, chuvas regulares.
7 – Por que nenhuma grande cidade do mundo conservou e reconstituiu, dentro de si, como seu coração, uma floresta natural, do porte da Floresta da Tijuca? É quase um milagre. Há ainda mais duas áreas de mata atlântica, algumas vezes maiores que a da Tijuca, em dois grandes maciços – o da Pedra Branca e do Mendanha – em plena região metropolitana, cujos projetos de demarcação estão em andamento.
8 – Por que os quase 10 milhões de habitantes do Grande Rio estão assumindo rapidamente um alto nível de consciência, como em poucos lugares do mundo, em matéria de defesa e recuperação do meio ambiente. Sobretudo, em relação à idéia fundamental de que a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento dependem essencialmente do ser humano e a ele se destinam. Por conseguinte, do primado da educação sobre todas as demais atividades. Tanto é assim que, em lugar nenhum do mundo se põe em marcha um programa educacional, com apoio da população, da dimensão e da coerência do programa dos Cieps e dos Ciacs.
9 – Enfim, a mudança de consciência que a Rio–92 está operando, algo que o próprio Secretário-Geral da ONU, Boutros Ghali, definiu como o espírito do Rio, nos dá o direito de imaginar que, daqui a uma ou duas décadas, os nossos filhos e netos possam ver a Terceira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento orientar-se, então, pelo exemplo do Rio, como prova de que é possível salvar o futuro das cidades e a qualidade de vida em todo mundo.


Leonel Brizola

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