O triste dilema de Cabral

Artigo de Adilson Pereira   
         A visita do governador Sergio Cabral era o evento mais esperado do ano em Maricá. Dado o pontapé inicial ao período pré-eleitoral, o jogo político passou a ser questão primordial ao futuro, quiçá à sobrevivência, de nossa cidade. Dois personagens travaram rispidamente um espaço ao lado do governador inimigo das forças de segurança pública estaduais. Com um discurso carregado de euforia, só visto quando Cabral pediu votos para o miliciano Jerominho, acabou jogando uma pá de cal nas pretensões do “Sr. Volta que eu voto”.
         O que poucos entenderam foram os motivos que levaram o governador mais odiado pelas forças policiais do estado do RJ a dar literalmente as costas ao pré-candidato de seu próprio partido. Nada anormal, visto que Cabral também deu as costas a Picciani, preferindo apoiar Lindberg Farias ao senado. Traição a seus pares parece ser algo comum ao governador. Mas, quais os motivos que levaram ao abandono do “Sr. Volta que eu voto”?
         Há dois mil anos foi dado início a um novo estilo de vida. Um carpinteiro de origem humilde revolucionou o mundo com suas palavras e ações. A humanidade não seria mais a mesma. Ele dividiu a cronologia em duas: antes e depois d’Ele. Depois de cumprida a profecia com sua “ascensão”, aqueles que o acompanharam tiveram a incumbência de levar ao mundo sua mensagem, dando origem à Igreja Primitiva. Para tal, foi necessário o cruzamento das culturas hebraica e helênica.
         Procurando entender o contexto social e histórico, recorre-se ao Novo Testamento, que relata o passo a passo de todas as dificuldades vividas para a conclusão da missão. A palavra “igreja” vem do grego Ekklesia”, que significa “assembleia”, “reunião de pessoas”. Ao contrário do que muitos pensam, Igreja é um corpo, não um edifício; é um organismo vivo, não uma organização. Os gregos entenderam exatamente o que o apóstolo Paulo queria dizer quando se referia à Igreja como o “corpo de Cristo”.
         Vinte e um séculos depois, muita coisa mudou. A Igreja cresceu, como era de se esperar. O crescimento e a adaptabilidade às novas formas de vida levaram às mudanças. Uma delas diz respeito a criação de cargos eclesiásticos na intenção de colaborar com a ordem e a decência, imperativos da comunidade cristã. Cada instituição religiosa vem tentando se adaptar à modernidade da melhor forma possível. Assim sendo, um cargo de suma importância fora criado: “Ministro de Eucaristia”.
         Nesta instituição, apenas os sacerdotes são ministros ordinários, então os “leigos” receberam o nome de “extraordinários”. Tais ministros surgiram após o Concílio Vaticano II, como resposta à escassez de ministros ordenados. De início, não houve aceitação por parte dos tradicionalistas mas, com o decorrer do tempo, tudo se resolveu. Entre suas funções, existe uma de relevância ímpar: “União com Cristo pela palavra, leitura e reflexão da palavra de Deus”.
         A Igreja é pura e perfeita em sua essência. O homem não! Tal afirmação nos leva a entender o porquê de Deus mostrar claramente a fraqueza de caráter de vários famosos personagens bíblicos, dando a oportunidade do arrependimento. Os ensinamentos mostram que ter conhecimento do desvio de conduta de qualquer membro da Igreja e não relatar à comunidade tem nome: pecar por omissão.
         Maricá não é exceção à regra. Temos em nossa cidade um ministro eclesiástico enrolado até o pescoço com outro tipo de ministério... O Ministério Público. O cidadão em questão responde a todos os tipos de desmandos imagináveis. Nosso personagem é o “Sr. Volta que eu voto”, um ministro eclesiástico que no dia 09/02, próxima quinta-feira, às 14:00h, estará em audiência respondendo por “CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL” – Lei 7.492, artigo 10. Será que temos aqui uma cópia fiel de “AlCapone?
         Aos desconhecedores, nosso provável “Al Capone maricaense responde ao processo  0016255-86.2010.8.19.0031, distribuído em 27/08/2010, na Comarca de Maricá. O autor da ação, claro, é o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, o mesmo que vem acusando o “Sr. Volta que eu voto” por DESONESTIDADE & LESÃO AOS COFRES PÚBLICOS.
         Nas entrelinhas do discurso de Cabral, talvez tenha ficado claro àqueles que convivem de perto com o “Sr. Volta que eu voto”, sua indisposição em se misturar com personagens da banda podre da política maricaense. Na falta de boas escolhas dentro da situação PT x PMDB, o governador, malandramente, preferiu ficar ao lado do poder.
         Prezado “Sr. Volta que eu voto”, por que não se contenta com o que lhe é dado como benção? O suficiente para uma vida digna e honesta. Seu impulso de querer sempre mais parece baseado na equivocada concepção de que possuir mais o tornará mais feliz, mais protegido, mais importante. Ledo engano. A dignidade está pautada na simplicidade.

Comentários