Atos e Assuntos Religiosos – Parte VI

Por Adílson Pereira - Após o início desta série de artigos, alguns “igrejeiros” questionam a forma com a qual me refiro a pastores, dizendo que não devemos questionar os “ungidos por Deus”. Tal fato me fez retornar ao pop rock nacional de algumas décadas atrás: “Eu vejo a vida melhor no futuro. Eu vejo isso por cima de um muro de hipocrisia, que insiste em nos rodear” (Lulu Santos). Segundo o hino 314 do Cantor Cristão, não tenho com o que me preocupar, pois “lutas sem cessar hei de atravessar, descansando no poder de Deus”.
            O que pude perceber nas críticas é o que diz respeito ao perfil dos críticos. Resta saber quem ou qual é a pedra de tropeço do “Caminho”, se a tentativa de corrigir atos falhos de líderes religiosos que se acham acima do bem e do mal, ou a atitude hipócrita daqueles que se agarram às mais variadas formas de se manterem numa falsa posição de poder na igreja física? “No mundo sempre existirão pessoas que o amarão pelo que você é, e outras que vão odiá-lo pelo mesmo motivo. Acostume-se!” (Ediane Wunderlich).
            A igreja, enquanto instituição social, tem todo o tipo de frequentadores, desde os fofoqueiros e os bajuladores de pastor, até os que dedicam uma vida de oração aos que necessitam: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tiago 5:16); desde os agregados de outras pradarias, que não congregam, nem convivem com o cerne da igreja, até os que vivem para o verdadeiro evangelho, levando luz à escuridão: Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida (João 8:12). Aguardamos ansiosamente o momento de separar o joio do trigo: “Deixai-os crescer juntos até a colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro” (Mateus 13:30).
            Os críticos poderiam dedicar um pouco mais de seu tempo à Escola Bíblica Dominical, ou aos estudos teológicos das quintas-feiras à noite. Daí, perceberiam que nós somos o “capítulo 29” do livro de Atos dos Apóstolos. Nós somos a “Igreja viva”, em sua plenitude, carregando todos os conflitos sociais que o cristianismo suscita após a ressurreição do Cristo, transformando a vida de seus seguidores numa tarefa nada fácil desde os tempos da Igreja primitiva: “Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (Atos 9:15,16).
            O texto de referência bíblica (Gálatas 2:11-14) da 5ª lição da revista Palavra & Vida (2º trimestre/2013), utilizada como base dos estudos dominicais da Igreja Batista, mostra um grave incidente entre dois dos principais apóstolos de Cristo. Paulo repreende severamente a Pedro pela atitude hipócrita deste em relação ao que prega e ao que vive. O fato é extremamente grave, pois a atitude hipócrita de um líder da Igreja gera conflito testemunhal, gera divisões, esvazia o trabalho de evangelização, podendo levar a comunidade cristã a se desviar do verdadeiro evangelho. Se o texto sagrado não empurra para baixo do tapete os desvios de caráter e de conduta de suas principais personagens, quem somos nós para assim o fazermos?
            Os questionamentos realizados neste capítulo de estudos são diretos:
1.      Temos nos mostrado atentos aos desvios, intencionais ou não, do evangelho?
2.      Estamos preparados para responder com prontidão a essas perversões doutrinárias?
            O estudo prossegue de forma rígida na página 47, trazendo à tona a dilaceração da falsa imagem de líderes perfeitos, sublimados ao extremo por aqueles que não buscam o conhecimento da palavra de Deus como única regra de fé e prática: “Somente com liberdade de pensamento e de expressão pode ocorrer o discernimento espiritual, sem o qual não poderemos desmascarar falsos mestres, falsos pastores e falsas igrejas” (conforme 2Pe 3:15-18).
            Ao ouvir a declaração de um pastor pentecostal, secretário de governo, tentando justificar a existência de uma aberração chamada “secretaria de assuntos religiosos”, dizendo que a secretaria foi criada para “suprir as demandas religiosas do município”, alguns podem começar a imaginar que o Cristo veio ao mundo a passeio; que seu sangue e suas feridas são acidente de percurso; que sua ressurreição ao terceiro dia de sua morte foi um milagre puramente casual. Pura hipocrisia! A doutrina de sua denominação não instrui que a demanda do mundo foi suprida, única e exclusivamente, pelo sangue do cordeiro? Sua desobediência não será esquecida:
(Hebreus 4)    
v.11- Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência.
            v.12- Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.
            v.13- E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos que prestar contas.
            Aos que acham que suas ações não envergonham o Evangelho, este notável testemunho do pastor Isaltino Gomes Coelho Filho, líder da Igreja Batista Central de Macapá, mostra o quão libertador é o caminhar com a verdade: “Alguns líderes religiosos brincam com o que não podem, achando que são cheios de poder e autoridade... A ditadura foi um período difícil para quem não se deixou seduzir pela propaganda oficial. Sabíamos que havia tortura, mas nada falávamos. Muitos até aplaudiam o regime. Eu era um pastor de 24 anos e ouvi um político evangélico dizer, num retiro de pastores, que o regime estava muito frustrado com as críticas da Igreja Católica e que aquela era a nossa oportunidade. De nossa parte houve silêncio e oportunismo.
            – Pai, como perdoá-los sem que demonstrem arrependimento pelo que fazem?     


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