Cinegrafista da Band, morto nesta segunda-feira, vivia na Praia de Itaipuaçu

O cinegrafista da Rede Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, teve morte cerebral atestada na manhã desta segunda-feira. Santiago está no Centro de Terapia Intensiva do Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro, desde a quinta-feira da semana passada. Os médicos teriam feitos exames que mostraram que 90% do lado esquerdo do cérebro do cinegrafista estariam sem irrigação. Na porta do hospital, muitos amigos e colegas do cinegrafista choraram e lamentaram o acontecido. A Bandeirantes confirmou que a família de Santiago decidiu doar seus órgãos.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a morte encefálica foi diagnosticada nesta segunda-feira pela equipe de neurocirurgia do hospital. "A pedido da família, a secretaria torna público o agradecimento a todos os que torceram pelo seu restabelecimento e que, num ato de solidariedade, atenderam ao chamado para doar sangue ao Hemorio', diz trecho da nota.

Santiago foi atingido na cabeça por um rojão, teve afundamento craniano e perdeu parte da orelha esquerda e foi submetido a uma cirurgia de cerca de quatro horas. Dois drenos chegara a serem colocados na cabeça do cinegrafista para diminuir a pressão craniana, e no sábado uma tomografia realizada no hospital havia comprovado que a hemorragia intracraniana teria sido controlada.

Em entrevista ao "Bom Dia Brasil", a mulher do cinegrafista disse não acreditar que seu marido sobrevivesse ao ferimento que sofreu durante a manifestação:

— Quando eu entrei (no hospital), senti que ele não estava mais lá. Fiquei pensando que eu tenho que mostrar que ele não pode estar indo embora em vão. Meu marido é só mais uma pessoa, mas não quero que o nome dele seja esquecido — afirmou Arlita. O cinegrafista Santiago Andrade é descrito por colegas da Rede Bandeirantes no Rio, onde ele trabalhou por dez anos, como um profissional muito prudente.

Muito emocionado, o repórter da Bandeirantes Alexandre Tortoriello, que ganhou dois prêmios de mobilidade urbana em reportagens feitas com o cinegrafista Santiago Andrade, falou sobre o amigo. Alexandre, que teve a missão de fazer a cobertura nesta segunda-feira da morte cerebral do companheiro de equipe, destacou o excelente profissional que Santiago.

— O Santiago era a pessoa mais fácil de gostar que eu conheci até hoje. Tive a honra de trabalhar e ainda ganhar dois prêmios com ele. Era um profissional muito cuidadoso e que estava sempre tentando preparar o melhor equipamento, estava sempre disposto a tudo. Eu rezei para que ele se recuperasse, mas sabia que a situação dele era muito delicada. É difícil saber que não vou mais trabalhar com ele. Agora, ele está lá com Deus e peço que ele olhe por todos nós — disse Alexandre, que chorou muito ao dar esse depoimento aos jornalistas.

Preocupado com sua segurança, no fim do ano passado, chegou a frequentar um curso orientado por especialistas do Exército. Um dos focos do curso foi, exatamente, a segurança na cobertura de manifestações de rua, que ganharam força a partir de junho de 2013, com protestos contra o aumento das passagens de ônibus.

Experiência em lidar com a violência Santiago também tinha de sobra. Em seu histórico profissional, constam, além de protestos, várias operações policiais em favelas do Rio. Dedicado à cobertura de temas gerais, ele saía diariamente para pautas jornalísticas que iam de eventos esportivos a confrontos. Por vezes, ele participou também de coberturas especiais: duas delas sobre dificuldades enfrentadas por usuários de transporte público que renderam ao cinegrafista prêmios de reportagens sobre o tema mobilidade urbana, em 2010 e 2012, oferecidos pela Fetranspor.

Santi, como Santiago era chamado na Band, é flamenguista, é casado há 30 anos com Arlita Andrade e tem uma filha e três enteados. A filha seguiu os passos do pai e se formou em jornalismo. Mas nem tudo era jornalismo na vida profissional de Santi: — Ele já foi DJ — conta uma amiga e colega de trabalho.

Carioca, Santi foi criado em Copacabana. Mas optou por morar longe do barulho de Copa. Nos últimos anos, vivia na Praia de Itaipuaçu, em Maricá.

Fonte: O Globo





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