Poder Público pode ser responsabilizado por tragédia na região serrana


11/01/2012 - Segundo análise realizada pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, há exatamente um ano, depois da tragédia que afetou a região serrana, na qual foram registradas mais de 900 mortes, nada foi feito para que fosse evitado um novo desastre.

De acordo com técnicos especialistas do CREA, os quais elaboraram o 3º relatório sobre a tragédia que atingiu as cidades de Teresópolis, Petrópolis, Nova Friburgo e Bom Jardim no início de 2011, concluíram que a região serrana continua ameaçada; das 150 obras recomendadas, na época da tragédia, nem 10%  foram realizadas.

Em entrevista coletiva às principais emissoras de rádio e TV do país, o presidente do CREA, Agostinho Guerreiro, disse que, ao menos, poderiam ter sido realizados os recobrimentos vegetais das áreas afetadas pelos deslizamentos e que estas seriam soluções emergenciais rápidas e baratas.


“As poucas intervenções que os poderes públicos começaram sequer foram concluídas. No primeiro relatório que o CREA-RJ elaborou, já havia propostas de obras emergenciais e que não exigiriam nenhuma fortuna para amenizar os problemas, como a cobertura vegetal das áreas afetadas por deslizamentos. Recomendamos também que as obras fossem iniciadas em março ou abril, o princípio do período das secas”, relembrou Agostinho. “Infelizmente, na estiagem, voltamos às cidades afetadas e verificamos que as obras não estavam sendo implementadas. Estava claro que em grande quantidade de chuvas, a tragédia seria inevitável”, continuou.
No terceiro relatório, que constata que apenas medidas paliativas de curto prazo foram implantadas na região, o CREA-RJ alerta os governos para a necessidade de obras de médio e longo prazo, que precisam ser planejadas de imediato para serem construídas no período de estiagem de 2012, a iniciar em abril. Do contrário, a situação calamitosa em que se encontra a Região Serrana irá apenas se agravar no verão de 2013. Em função do alto grau de desmatamento e degradação ambiental, somados à ocupação desordenada do solo, o Conselho sugere a implantação de pequenas e médias barragens nos rios para controlar as enchentes, intervenções nas encostas para controle da erosão do solo e planejamento para remoção da população ao longo do tempo, entre outras medidas.
Por conta da corrupção, da não liberação de verbas e da crise política que se instalou na Serra Fluminense, as obras de médio prazo indicadas pelo CREA-RJ não foram iniciadas pelos órgãos governamentais. Como a solução permanecia urgente, restou ao Conselho dar novas sugestões, desta vez para ao menos salvar vidas: a instalação de sirenes para alertar a população nas áreas de risco e melhoria nos abrigos públicos, para que oferecessem um mínimo de dignidade às famílias.
“Também em 2011, houve uma enchente na Austrália que inundou uma área com tamanho equivalente ao Rio de Janeiro e uma tsunami no Japão que prejudicou uma usina nuclear. Os desastres naturais acontecem e ninguém está livre deles”, lembrou o presidente. “Mas o tempo de recuperação das áreas afetadas nestes dois países foi muito menor e os efeitos foram minimizados. A engenharia brasileira não deixa nada a dever à engenharia japonesa. Se problemas como os da Região Serrana do Rio ocorrem, é porque falta vontade política para solucionar a questão”, afirmou.


Record, RedeTV, Globonews, CBN, Bandnews, Jornal O Globo, G1, Rádio Roquette Pinto, Uol, Veja Rio, Agência Brasil e R7 acompanharam a entrevista na sede do CREA-RJ.
A Secretaria de Obras do Estado do Rio de Janeiro emitiu nota informando que, logo depois da tragédia, foram repassados, às prefeituras, R$ 60 milhões para obras emergenciais e o governo do Estado investiu cerca de R$ 45 milhões para recuperação de rodovias e deve aplicar mais R$ 80 milhões em recursos para construção de pontes, mas aguarda as licitações.
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