“Atos” e Assuntos Religiosos – Parte III


Adilson Pereira - O profeta Miquéias fez um diagnóstico da sociedade de seu tempo. Dois mil e setecentos anos depois, os problemas de hoje parecem os mesmos de outrora.
Os tempos mudaram, mas o coração do homem não. Os problemas que levaram a nação de Judá ao colapso, ainda hoje ameaçam uma pequena civilização à beira da ruína. A classe política violentava os mais pobres, tomando-lhes o que tinham de mais precioso: sua dignidade, em troca de ínfimos favores. Eles faziam suas próprias leis, manipulando-as para que pudessem locupletar-se delas e, ao mesmo tempo, escapar, porque se colocavam acima da legislação por eles mesmos criada. Todo sistema sócio-político-econômico agia em benefício de uma classe política aliada ao mal personificado.
A classe política de Judá se corrompera a tal ponto que Miquéias os chamava de canibais, pois comiam a carne do povo, aborrecendo o bem e amando o mal, agindo de forma draconiana, apenas para que pudessem ostentar seu luxo nababesco. Uma classe política naufragada na imoralidade, capitulada na sedução da riqueza ilícita. Miquéias os acusava de tomar decisões por suborno.
A partir daí, vemos a generalizada decadência da família, da estrutura familiar. As famílias não eram mais redutos de reserva moral, mas verdadeiros campos de batalha. Os filhos desprezavam os pais, que desprezavam as abominações dos filhos, e vice-versa. Maridos e esposas ao invés de serem a contra-cultura numa sociedade decadente, era o espelho dessa sociedade. O mal estava embutido no núcleo mais íntimo da classe política... A família.
Líderes religiosos, “homens de Deus” que deveriam ser como um facho de luz no meio da escuridão da idolatria a Mamon e a Belial, assistiam a tudo de forma vil e degradante aos olhos de Deus. Em vez de eles influenciarem o mundo, o mundo os influenciava, fomentados pelo fermento do lucro. “Homens de Deus” que ensinavam por interesse, com a alma corrompida pela ganância, fazendo-os cair nas teias insidiosas da apostasia.
O carnaval é a maior festa popular do Brasil, talvez do mundo. Nesta festa de extravagância e excessos, muitos saem às ruas usando máscaras. Outros, escondem-se atrás das máscaras da hipocrisia galopante da “teologia do eu próprio”. Outros ainda, revelam-se por meio delas. Máscaras intangíveis, encobrindo seus fantasmas e seus medos. Algumas encobrem o rosto, mas neste caso, tentam disfarçar as atitudes da alma.
De certo modo, todos já usamos uma máscara. Aquele que afirma nunca ter usado uma, acaba por afivelar uma ao próprio rosto, a da mentira. Quando as usamos, os que nos cercam amam quem aparentamos ser, não quem verdadeiramente somos. Mas, elas nunca serão firmes e seguras; por mais que as apertem, caem nas horas mais impróprias, deixando seu usuário em situação de total constrangimento.
A vida cristã é uma contínua remoção de máscaras. Mas, os falsos profetas, “pseudo-homens de Deus”, comparados a sepulcros caiados (limpos por fora, mas cheios de rapina por dentro), são grandes atores que representam um papel diferente daquele desempenhado na vida real. Das duas uma... Ou o dito “homem de Deus” está fora do plano de sua chamada ministerial, ou Deus se enganou(?) redondamente ao chamá-lo para o ministério, quando deveria apenas capacitá-lo para serviços relevantes num setor laico.
Cada um que fique na vocação para a qual foi chamado. Um líder religioso enveredar-se pela política é desvio de função, é perda de função, é não acreditar que Deus tem um projeto. Em síntese, é soberba, é autossuficiência, é entristecer a Deus. E o preço é caríssimo. Basta ver o estado de igrejas cujos pastores decidiram transformá-las em redutos e plataformas eleitorais. É pura decadência espiritual. É perder a noção de distância que deve ser mantida entre o sagrado e o profano. O papel de um pastor deveria ser muito superior a de um agente político, não subserviente a ele.
  Em tempo: Qualquer semelhança com Maricá é mera coincidência!!!

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