ENTRE A CRUZ E A ESPADA - Aécio ou Dilma?

Maurício Pássaro - Muitos eleitores devem se sentir assim agora: entre a cruz e a espada. Seu candidato não passou para o segundo turno; ou sequer votou, anulou, justificou o voto, crendo que nenhum candidato lhe representava e assim escaparia da cruz e da espada. Infelizmente, votando ou não agora, terá pela frente, com o novo governante, a cruz e a espada de uma realidade, de uma represa que racha e a qualquer momento estoura.

As coisas querem fazer parecer que não há opção, que a cruz se iguala à espada. Os dois símbolos falam de dor, sofrimento, morte. Mas, somente a cruz se reporta ao sacrifício. Antes de ver seu Mestre ir para a cruz, o apóstolo Pedro toma a espada de um soldado e lhe corta a orelha. Jesus a reconstitui e ainda admoesta ao discípulo que não repita o gesto, pois “quem com ferro fere com ferro será ferido”. A ferida das espadas não cicatriza, a vingança lhe espreita, a guerra nunca termina.

A espada é o projeto de Judas, de tomar o poder pela violência, de fazer a revolução social. Uma arma de traição, sempre acompanhada pelas trinta moedas. Hoje essas trinta moedas se multiplicam em milhões (ou bilhões) de reais na sangria da corrupção sobre o Erário. A espada, com seus dois gumes, tem o dom afiado da língua dúplice – aquela que diz uma coisa quando está na oposição, e outra, quando na situação.

Na cruz se suporta o mundo injusto dos homens, e com a espada, muitos creem que tudo se resolverá apenas arrancando a “elite” (o império romano) do poder. A espada retira do poder uma elite para lá colocar outra, ainda mais cruel, ressentida e injusta.

A espada apregoa o justiçamento dos homens, enquanto a cruz revela a justiça divina, que a tudo observa com acurada atenção. Especialmente a iniquidade, a falsidade, a mentira. Na lâmina da espada estão as teorias sobre o poder, a astúcia maquiavélica que distorce os fatos, a racionalidade manipulada que combina os dados diante de uma população de analfabetos funcionais, de processadores humanos com poucos bytes de memória.

A humildade em saber que ninguém é dono da verdade está na cruz. Mas, a espada é arrogante: o homem é o sujeito suficiente da história e Deus, apenas um figurante folclórico, arremedo cultural. O Criador de todas as coisas passa ao largo das propagandas eleitorais. Quando citam o seu nome – ateus e teístas – é para ganharem voto de religiosos incautos ou de incautos religiosos. E pra isso, a espada adentra os templos, bate fotografias ao lado de sacerdotes, no altar, e faz sinal da cruz, como se acreditasse realmente na existência de Deus. Raça de víboras!

A cruz vem lembrar a vocação cristã do Brasil, que uma vez, no começo, já se chamou Terra da Santa Cruz. Vem lembrar o que sempre disseram as crônicas espíritas – que o Brasil é a terra da promissão, a terra do Santo Cruzeiro, o celeiro (espiritual) do mundo. Deus, pai de todos, não é só brasileiro, mas escolheu essa terra para uma destinação espiritual. Quando a população fizer mais silêncio e prestar atenção no Brasil que não aparece na TV, vai descobrir que isso já está acontecendo.

Enquanto a espada, vermelha de sangue, traz o lamento das revoluções, a arrogância da violência que se legitima para combater a própria violência, como queria Judas. Barrabás, do “partido” de Judas, não era apenas um simples ladrão, mas um homem interessado em destronar o poder de Roma, à força. A violência dos dogmas ideológicos e doutrinários perfura as mentes como uma espada.

A espada quer separar o joio do trigo, e chama o joio de “eles” e o trigo de “nós”. Mas, na cruz da tolerância é que suportamos as nossas mil diferenças que, afinal, se igualam a sete palmos do chão, onde tudo vira comida de vermes.

Entre a cruz e a espada, prefira a cruz.





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