Jacintho Luiz Caetano, 100 anos de História - Último capítulo


Por Adilson Pereira / Da série "Dignidade tem Preço?" - Chegamos ao fim de nossa série “Dignidade tem Preço?”, com seu sexto e último capítulo. Um capítulo recheado de surpresas, com personagens surpreendentes, dados os acontecimentos em relação ao risco iminente de ter em nossa cidade um perigosíssimo busto, bravamente arrancado pelo “Exército de Brancaleone”, em sua mais excitante fanfarronice.
Desta vez falaremos daquele que citamos no capítulo anterior como o “menino João”. Este é nada mais, nada menos, que o Sr João José de Carvalho, filho de Dona Adelaide, uma senhora que ajudava no engenho de farinha. Nessa época, ambos moravam próximos à casa de dona Miúda.
Quando Seu João começou a trabalhar no armazém ainda era bem menino, dando início a uma parceria de mais de 60 anos com Jacintho Luiz Caetano.
Ele fazia anotações nos cadernos (contador da época) e anotava nas cadernetas de fiado, que não eram poucas, num armazém onde era comum a troca de ovos de galinha por mercadorias (arroz, açúcar,...), no melhor estilo de escambo.
Seu João, além de controlar as mercadorias que chegavam e saíam, fiscalizava as peraltices dos filhos de Jacintho, já que os mesmos nasceram e foram criados junto a ele, numa cumplicidade e amizade ímpares. Era comum Seu João chamar a atenção das traquinagens dos filhos de Jacintho de forma bem peculiar:
- “Ham, Ham, Ham... Diquê? Diquê? Diquê?”.
Com o tempo, os filhos de Jacintho passaram a ajudar no armazém, sob supervisão de Seu João, prestando-lhe contas de tudo o que havia sido feito.
Ao ficar noivo com Dona Sílvia, Seu João foi presenteado por Jacintho com um armazém, com o objetivo de ajudá-lo a construir sua independência e premiar a maneira leal e responsável com que sempre exerceu o seu trabalho.
Seu João se casou com Dona Sílvia e tiveram 4 filhas: Marli, Marlene, Marilda e Marilza, que mais tarde escreveram: “Seu Jacintho, amigo dos mais humildes, homem influente sem ser político, construiu uma fortuna condigna com seu trabalho, tendo sempre ao lado o companheiro e confidente, nosso pai. Uma parceria, uma sociedade, onde patrão outorgava plenos poderes de decisão ao empregado, onde não havia vínculo empregatício formal, mas havia grande amizade, confiança e respeito mútuo...”
Ao assumir a nova caminhada, separado do amigo de longas datas, Seu João adoeceu, tomado por profunda saudade. Seu Jacintho, que certamente sentia a mesma falta do companheiro, o levou de volta ao convívio mútuo. A amizade fraterna em nome do bem comum.
Em 1981, quando Seu Jacintho adoeceu, Seu João também começou a sentir sinais de doença, que o vitimou em 1986, seis meses antes do falecimento de Seu Jacintho.
A escritora do livro em questão, Maria do Amparo Caetano, faz o seguinte comentário: “Este fiel amigo e grande companheiro preferiu partir antes. Tenho certeza de que, João, como sempre fazia, foi organizar e preparar tudo, junto a Nossa Senhora, para a chegada de meu pai...”.
Nota: Fecho a série com esta alterosa e altissonante história de amizade, como poucas já vistas, irradiando seu brilho e magnitude através dos tempos, ultrapassando todos os limites da compreensão humana e transcendendo até mesmo as atitudes mais mesquinhas provenientes de um vulgo anatídeo, com sua mais que comprovada destrutividade nas ações e palavras.
Vale lembrar que uma das filhas de Seu João é Dona Marilza, que tem por nome completo Marilza de Carvalho Horta. Dona Marilza, juntamente com suas irmãs, “in memorian” de Dona Marli, terminam seus depoimentos da seguinte forma: “... Reconhecidamente afirmamos que a grande herança deixada pelo Sr. Jacintho e nosso pai foi a verdade, a credibilidade, a amizade e o respeito mútuo. Muitas histórias são contadas e todas falam de dois companheiros que fizeram uma linda história que mudou significativamente a vida de nossa cidade. Sempre ouvimos de meu pai a seguinte frase: ‘Palavra de Seu Jacintho vale mais que qualquer escritura’! Deus concedeu muitos bens às famílias, mas o bem maior que nos foi deixado foi a lição de que tudo se constrói através do AMOR, da confiança, da dedicação do respeito e da honestidade...”.       
Até onde podemos enxergar, irmãos, cunhados, genros, filhos e netos, todos fazem parte desta herança de fidalguia, generosidade, amor ao próximo, respeito, confiança e fidelidade. Todos... Menos um. Um dos envolvidos neste belo roteiro de vida se omitiu de forma estarrecedora aos olhos comuns, de forma vergonhosa aos conhecedores dos fatos, mostrando total desapego e desamor à história de sua própria família, frente à fatídica e bisonha cena de retaliação ao “busto terrorista”.
O vereador veterinário Fabiano Horta, filho de Dona Marilza de Carvalho Horta, neto de Seu João José de Carvalho, com os poderes de Presidente da Câmara de Vereadores de Maricá e o status de amigo pessoal do Prefeito de Maricá, por respeito a sua própria história, deveria ter se manifestado em contrariedade a todo este nefasto acontecimento.    
Diante da história de seu avô, das palavras brilhantemente transcritas por sua mãe e tias, e em nome da dignidade devida aos grandes nomes da história mundial, acreditávamos que sua atitude seria completamente contrária à que tomou... Nenhuma! O cristão verdadeiramente selado no Espírito Santo de Deus, deveria saber mais que qualquer outro que, assim como a citação de sua família (... tudo se constrói através do amor...), que “o amor não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade” (1 Cor 13:5,6).


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