“Atos” e Assuntos Religiosos - Parte IV - O Cão Volta ao seu Próprio Vômito


Por Adilson Pereira - Quando Thomas Jefferson utilizou a expressão “muro de separação”, certamente não imaginou a controvérsia que cercaria o termo alguns séculos mais tarde. A metáfora se tornou tão poderosa que há mais americanos familiarizados com a frase de Jefferson do que com o verdadeiro texto da Constituição americana.
De certo modo, a ideia de separação entre Igreja x Estado é uma descrição precisa do que deve ocorrer entre as duas instituições. A história está cheia de exemplos dos perigos que surgem quando as instituições, tanto da Igreja, quanto do Estado, se entrelaçam. As fogueiras da Inquisição imortalizaram o cheiro da morte em defesa de um deus que visava seus próprios interesses. À época, de forma sorrateira e profana, Mamon era o cara. Será que não mais o é? Vejamos...
 O conceito contemporâneo de separação entre Igreja x Estado vai muito além do reconhecimento de que as duas instituições devem ser separadas. A versão atual desta expressão veio a significar que deveria haver uma separação completa entre a vida pública e a religião. Se um pastor não dedica 100% de seu tempo para exercer suas funções eclesiásticas, não deve ser considerado 100% pastor. Deus exige dedicação integral ao pastorado.
O livro do profeta Isaías, em seu capítulo 56, mostra a corrupção sem medo, sem pena, sem omissão. Uma corrupção que se alastra pelo meio político, passando pelo cerne da Igreja, chegando a envolver a área de segurança pública. As comemorações, envoltas em bebedeiras, são o prenúncio da crença na impunidade (vide v.12):
v.9- Vós, todos os animais do campo, todas as feras dos bosques, vinde comer.
v.10- Todos os Atalaias (guardas e governantes) de Israel são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados, e amam o tosquenejar.
v.11- Estes são cães insaciáveis, nunca se podem fartar. São pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para sua ganância, todos sem exceção.
v.12- Vinde, diz cada um deles, trarei o vinho, e beberemos bebida forte; o dia de amanhã será como este, ou ainda muito melhor.
O recado de Isaías é claro, direto. Os políticos e os governantes são acusados pelo profeta de não levarem a sério a própria função e de agirem em vista dos próprios interesses (v.10). Para eles, o poder é um meio para viverem tranquilos: são “cães mudos” (v.10), pois não defendem o interesse do povo; são “cães insaciáveis” (v.11), porque devoram os bens públicos para fazerem fortuna pessoal. A nova era (Nova Maricá?), na qual deveria imperar o direito e a justiça anunciada, começa a se esfacelar, pois a corrupção dos governantes causa a desgraça do inocente de tal modo, que este só encontrará paz quando os virem destruídos. Assim, começa de novo a se instaurar o regime de morte. Por isso, “feras selvagens” são convidadas a devorar esses “cães” (v.9)
A ganância, pelo poder ou pelo dinheiro, é vista pelo profeta como idolatria. A idolatria é descrita como prostituição. Uma prostituição enraizada em todas as esferas do poder público e em algumas esferas religiosas, como em algumas igrejas, prefeituras e câmaras de vereadores por aí afora (“Roma é uma prostituta, ela se deita com o vencedor” – Julio Cesar, general romano). O profeta, de um jeito muito peculiar, antecipa dizeres do próprio Cristo: “Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada” (Mateus 10:34). Deus se esconde para que nós o encontremos através de nossa vontade. Ao final, não importa qual seja a pergunta, Ele é a única resposta.
Cristo critica e condena os líderes religiosos que sustentam um sistema formalista e hipócrita. Eles não consideram o Reino de Deus como dom, mas um meio de se locupletar. Tal sistema não leva à conversão, mas à perversão: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos, e de toda imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estão cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mateus 23:27,28). Cristo mostra que a religião corrompida pelo poder e pelo dinheiro é frontalmente oposta àquela que deve ser vivida por qualquer comunidade cristã. Já vimos com que facilidade se perdem os referenciais da fé quando se é seduzido pelo poder político. O recado é claro: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mateus 23:33)
Terminada “sua” vida, “você” comparecerá diante de Deus, e Ele avaliará como “você” o serviu: “De modo que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Romanos 14:12). Nesse momento, as desculpas para “sua” hipocrisia soarão vazias. A Bíblia alerta a todos que se dizem cristãos, mas não vivenciam o Cristo: “Mas Deus concederá indignação e ira aos que são contenciosos e desobedientes à verdade, e obedientes à iniquidade” (Romanos 2:8). “Sua” conivência com aquilo que desacata a Deus também será motivo de “sua” perdição, ao alicerçar a absolutização do profano... Coisas, pessoas, dinheiro, poder, ideias: “Embora tenham conhecimento da justiça Divina, que são dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam” (Romanos 1:32).   
A segunda carta de Pedro é dura, chegando a ser cruel com os falsos profetas. Chega a profetizar seus seguidores, que envergonham o ideal do Cristo, permitindo a corrupção sobre si mesmos: “Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos mestres, os quais introduzirão heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos uma repentina destruição. E muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade. Pela ganância farão de vós negócio, com palavras fingidas. Para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e sua destruição não dorme” (2Pedro 2:1-3).  
A advertência é severa, pois “você” vivencia um falso propósito cristão, pautado na degeneração de “sua” nada nobre índole. A seta é certeira no coração de “sua” hipocrisia, de “sua” corrupção e de “sua” subserviência à decadência moral e espiritual: “Se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Melhor lhes seria não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do Santo Mandamento que lhes fora dado. Deste modo, sobreveio-lhes o que diz o provérbio: O cão voltou ao seu próprio vômito e a porca lavada voltou a revolver-se na lama” (2Pedro 20-22).

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